Quadro, frequentemente comparado ao alzheimer em humanos, exige acompanhamento veterinário e cuidados do tutor para garantir o bem-estar do animal
Muitas são as doenças que acometem os seres humanos e, também, os animais de companhia e você já deve ter ouvido por aí que cães e gatos podem ter alzheimer. Mas será que isso é mesmo um fato? E, se sim, a doença atinge os pets da mesma forma que atinge as pessoas?
O diretor geral do Nouvet, Centro Veterinário de nível hospitalar em São Paulo, Thiago Guerreiro Teixeira, explica que o nome correto para este quadro nos pets é Síndrome da Disfunção Cognitiva (SDC). Trata-se de uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta cães e gatos idosos, sendo comparável ao alzheimer em humanos, mas não é a mesma doença.
Segundo Teixeira, os principais sinais clínicos são: desorientação (o animal parece “perdido” em ambientes familiares), alteração no ciclo de sono (dorme mais durante o dia e fica inquieto à noite), dificuldade em localizar o local correto para urinar ou defecar, perda de interesse por brincar e passear. “Nos cães de pequeno porte e gatos, os sinais de disfunção cognitiva começam a ser observados, em média, a partir dos 10 a 12 anos de idade, com maior prevalência em pets acima de 15 anos”, adiciona.
O que leva o pet a este quadro?
O profissional explica que existem fatores genéticos, comportamentais e ambientais que podem aumentar o risco de desenvolver a Síndrome da Disfunção Cognitiva (SDC). “Algumas raças têm maior predisposição como Poodles, Dashshunds, Terrier e Beagles”, enumera.
Além disso, há fatores comportamentais que implicam neste quadro. “Destacam-se os pets com pouco estímulos ao longo da vida, pouca interação social, baixa estimulação cognitiva, sem atividades de enriquecimento ambiental”, insere.
Diagnóstico e tratamento
Thiago Teixeira aponta que o diagnóstico do problema é baseado nos sinais clínicos, história do animal e exclusão de outras condições médicas, como doenças metabólicas, neurológicas ou dor crônica.
Já em relação ao tratamento da SDC, ele informa que, atualmente, há diversas opções disponíveis para melhorar a qualidade de vida. Entre elas, o profissional destaca:
Suplementos nutricionais:
Ômega-3: Ácidos graxos essenciais têm efeito neuroprotetor e ajudam na função cerebral.
Propentofilina: Melhora o fluxo sanguíneo cerebral, contribuindo para uma melhor oxigenação e nutrição do tecido nervoso.
Melatonina: Indicada para regular o ciclo sono-vigília, comum em animais com alterações cognitivas.
Medicamentos específicos:
Selegilina: Um medicamento que aumenta os níveis de dopamina no cérebro e reduz o estresse oxidativo, retardando a progressão dos sintomas cognitivos.
Psicotrópicos: Podem ser prescritos para controlar sintomas secundários, como ansiedade, agressividade ou depressão.
Estímulo cognitivo e enriquecimento ambiental:
Introduzir brinquedos interativos;
Alterar o ambiente para torná-lo mais seguro e confortável, como criar caminhos livres de obstáculos e manter uma rotina previsível.
Mudanças na dieta:
Dietas formuladas para suporte cognitivo, ricas em antioxidantes, vitaminas e nutrientes específicos, ajudam na saúde cerebral.
“A combinação dessas estratégias, sob orientação veterinária, pode trazer excelentes resultados”, garante.
Tudo isso deve ocorrer, também, com o empenho e ajuda do tutor. Thiago ainda recomenda que é preciso:
- Evitar mudanças bruscas na rotina;
- Evitar mudar móveis de lugar;
- Promover estímulos sensoriais e cognitivos de forma controlada (brinquedos interativos, alimentos variados, passeios).
Aos tutores, o profissional menciona que podem ser indicados terapias ou aconselhamento psicológico aos que estejam emocionalmente sobrecarregados com a situação do pet. “O médico-veterinário pode enviar alguns artigos médicos para que o tutor possa entender melhor o diagnóstico de SDC, o que também ajuda nestes casos”, conclui.
Matéria – Por Cláudia Guimarães
Imagem – A desorientação é um dos principais sinais do problema. O animal parece perdido em ambientes em que já está acostumado (Foto: reprodução)